Final da década de 90, o cinema estava enfraquecido, desde Titanic nenhum grande sucesso capaz de atrair milhões de pessoas aos cinemas, porém, foi em 2001 que esse quadro clínico de obscuridade do cinema foi mudando. Grandes lançamentos abriram uma temporada que já dura mais de uma década de triunfo das grandes produtoras cinematográficas.
Grandes filmes, investimentos milionários, produções de tirar o fôlego estava levando mais gente as salas de cinema, e algo por trás de todo esse alvoroço estava nascendo, uma magia, sem dúvidas. Harry Potter e a Pedra Filosofal estava sendo lançado no mundo, uma proposta diferente de lançar uma obra literária infantil em uma adaptação de cinema, poderia ser algo arriscado, mas o fato é que Harry Potter alcançou números inesperáveis e na época ficou em segundo lugar da lista das maiores bilheterias da história do cinema com arrecardação igual a 974.755.371 milhões de dólares.
A revista Época Edição 181 de 05/11/2001 trazia na capa a foto de um Harry sorridente, um Harry que sorria com seu próprio sucesso, foi uma matéria que fez muitos pais levarem seus filhos para assistir ao filme nos cinemas.
A página oficial da Revista Época na internet não atualizou as edições anteriores a ponto de alcançar a edição 181, porém ainda encontre-se no ar uma versão mais antiga do site onde podemos ler a matéria completa. Não sabemos por quanto tempo essa página ficará no ar, e também não sabemos se a Revista Época atualizará a página das Edições Anteriores com a edição 181, portanto, você poderá ler a matéria logo a baixo juntamente com o linck do site oficial.
Edição 181 05/11/2001 : Clik aqui
Edição 181 05/11/2001
ESPECIAL
A magia de Harry Potter
O filme baseado nas aventuras do menino bruxo promete multiplicar o fascínio de um dos grandes personagens da história da literatura infanto-juvenil
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O ator Daniel Radcliffe, de 12 anos, já assinou contrato para outros dois filmes da série |
O desembarque de Harry Potter e a Pedra Filosofal nos países de língua inglesa está previsto para 16 de novembro. No Brasil, a data marcada é 23. Mas o clima de suspense termina antes, no domingo, com uma avant-première em Londres para jornalistas do mundo todo e um grupo seleto de convidados. A autora, a inatingível inglesa J.K. Rowling, é presença confirmada. Tímida como sempre. Os números de vendagem dos quatro volumes de Harry Potter não são tão discretos quanto a mãe do personagem: só no Brasil 800 mil exemplares já deixaram as livrarias. O mago Paulo Coelho já vendeu mais de 6 milhões em português. Jorge Amado, desde 1977, atraiu o interesse de 20 milhões de leitores brasileiros. Harry Potter nas telas, aposta-se no mercado cinematográfico, tende a seguir a mesma estrada dourada.
No fim de semana de estréia, será exibido em 4 mil salas nos Estados Unidos, a maior marca da história do país. Na Inglaterra, meio milhão de ingressos já foram vendidos com antecedência para espectadores mais ansiosos. Pequenos fãs do Reino Unido fizeram fila e pagaram entrada para sessões de outros filmes ao longo das últimas semanas apenas para assistir ao trailer de Harry Potter e a Pedra Filosofal. A Warner Bros. do Brasil não revela valores, mas confirma que esse é o maior investimento no país desde 1929, quando abriu seu primeiro escritório, e prevê o lançamento em mais de 350 salas – 20% do circuito nacional. A produção do longa custou US$ 125 milhões e está dando lucro antes mesmo de chegar às telas. As ofertas de canais de TV pelos direitos de exibição alcançaram os US$ 160 milhões. A Coca-Cola desembolsou US$ 150 milhões num contrato que permite associar o garoto ao refrigerante.
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HERMIONE GRANGER Emma Watson é a mais tagarela dos atores mirins. "Foi a coisas mais legal que já fiz na vida", diz. A menina tem 11 naos | RONY WEASLEY Rupert Grint, de 13 anos, foi escolhido entre centenas de criznças ruivas. Pereba é seu ratinho de estimação |
A Warner aposta todas as fichas em Harry Potter e a Pedra Filosofal. Em primeiro lugar porque o investimento foi alto. Além disso, a empresa já comprou os direitos para filmar até o quarto livro da série, O Cálice de Fogo, e adquiriu uma opção para rodar os três que restam (Rowling prometeu escrever sete volumes). Harry Potter e a Câmara Secreta começa a ser produzido ainda neste ano, numa corrida contra a puberdade dos jovens atores. É preciso filmar imediatamente para que eles não envelheçam mais rápido que os personagens. Mas, se o primeiro filme não for bem recebido, a preocupação terá sido vã: seqüências de filmes com desempenho ruim dificilmente revertem a primeira impressão. Experiências do passado provam que adaptações de histórias infantis para o cinema podem ser um tremendo sucesso – O Mágico de Oz, inspirado no livro de Frank Baum, com a legendária Judy Garland, é o melhor exemplo disso – ou um fracasso total – caso de Hook, a Volta do Capitão Gancho, versão de Peter Pan estrelada por Robin Williams em 1991. A Warner sacou a varinha de condão e cravou uma sábia decisão: reverenciar ao limite as linhas escritas por J.K. Rowling.
Beatriz Velloso, de Londres
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RÚBEO HAGRID O inglês Robbie Coltrane foi o único ator escolhido pela própria autora. "Meu filho me mataria se não aceitasse o papel", diz o grandão |
A confissão serviu de senha. A partir dela, Rowling tornou-se figurinha carimbada nas sessões de elaboração do roteiro. Zelosa de sua criação, prestou consultorias fundamentais a Columbus. “Ela chegou a desenhar um mapa das dependências de Hogwarts (a escola de bruxaria onde estuda Harry)”, revela o diretor. “Disse, ainda, como deveria ser a textura das cortinas e esclareceu qual é a cor do sangue de dragão.” Com o roteiro definido e autorizado, Rowling sumiu de cena. Nas raras visitas ao set, aproveitava para conversar com o elenco. Alan Rickman, que interpreta o sinistro professor Snape, ouviu dela confidências sobre o que acontece com o personagem nos livros que ela ainda nem escreveu. Robbie Coltrane, na pele de Rúbeo Hagrid (uma espécie de bedel de Hogwarts), soube até qual será o destino do grandalhão no último volume da saga. “Cada um de nós da equipe guarda um segredo de Rowling”, afirma Columbus.
Integrantes da produção guardaram, também, segredo sobre tudo o que ocorria diante das câmeras. Nos estúdios de Leavesden, uma antiga montadora de aviões da Força Aérea Inglesa no subúrbio de Londres, o esquema de segurança era digno de uma visita de chefe de Estado pós-11 de setembro. Na entrada do set, bolsas e sacolas eram revistadas em busca de máquinas fotográficas. Os visitantes tinham de estar sempre acompanhados por um agente de segurança. A paranóia era tamanha que os jornalistas convidados a conhecer o local tinham de ser escoltados até quando iam ao banheiro. Professores particulares, contratados para dar aulas no estúdio aos jovens atores que deixaram a escola durante as filmagens, assinaram contratos para não abrir a boca sobre o que se passava por ali. O sigilo maior envolvia as cenas de quadribol. Um pacto de silêncio obrigava todos a jamais se pronunciar sobre as imagens do jogo mais popular do mundo dos magos, esporte no qual Harry é craque. Até Rowling ficou os primeiros dois meses de filmagem sem assistir a uma cena sequer. “Eu estava curiosíssima para conhecer o resultado”, declarou depois de ver as primeiras tomadas. “Posso garantir que a reprodução será fiel.” O quadribol é exemplo perfeito das dificuldades de adaptar uma obra infanto-juvenil para as telas.
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Parte das cenas na mata foi feita em estúdio. A Warner gastou US$ 13 milhões na direção de arte |
É sempre fascinante quando um adulto consegue mergulhar no universo infanto-juvenil e dele extrair um fenômeno como Harry Potter. É bacana porque demonstra a força da imaginação, da literatura e, agora, também do cinema. Momentos assim são raros e históricos. O italiano Carlo Lorenzini, que usava o pseudônimo de C. Collodi (1826-1890), transformou Pinóquio e o marceneiro Gepeto em lendas. Mark Twain (1835-1910) repetiu o feito com os clássicos As Aventuras de Tom Sawyer e Huckleberry Finn. Harry Potter ainda está longe da perenidade de seus antecessores. Mas o filme traz uma esperança: a de que crianças de todo o mundo – sobretudo as americanas – possam encontrar nele uma válvula de escape contra o trauma de 11 de setembro e da guerra no Afeganistão. A mágica do jovem bruxo chega em boa hora. Fantasia não faz mal a ninguém. Todo trouxa que se preza sabe disso.
Beatriz Velloso, de Londres
O admirável mundo dos magos
Um manual de Harry Potter para os pais poderem conversar à altura com os filhos
Fonte: as informações deste almanaque foram colhidas nos quatro livros da série e em sites da internet dedicado a Harry Potter |
Beatriz Velloso, de Londres
“Chorei bastante”
Daniel Radcliffe confessa que ficou emocionado com a escolha para o papel de Harry Potter e adoraria ter uma capa para ficar invisível
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Daniel Radcliffe é um anjo. Bonitinho, olhos azuis (esverdeados por lentes de contato no filme, para ficar como os de Harry Potter), bom aluno, inteligente, educadíssimo. No dia em que recebeu Época, no Grande Salão de Hogwarts recriado nos estúdios de Leavesden, em Londres, enfrentou uma jornada de oito horas falando para jornalistas de todo o mundo. Em nenhum momento reclamou de cansaço. Ao ser informado de que chegara a vez da entrevista com uma repórter do Brasil, lembrou-se de uma passagem de A Pedra Filosofal: "Quando Harry vai ao zoológico, ele conversa com uma jibóia brasileira", disse. "A cena está no filme."
Houve dois obstáculos que ele teve de vencer para interpretar o jovem mago: a própria timidez e a resistência dos pais. Alan e Marcia recordavam-se de casos de crianças famosas e problemáticas, envolvidas na adolescência com drogas e álcool: Macaulay Culkin, o garoto de Esqueceram de Mim, e Drew Barrymore, a menina de E.T. Por isso, relutaram em autorizar o trabalho.
Época - Qual foi sua reação ao saber que tinha sido escolhido para o papel?
Daniel Radcliffe - Chorei à beça. Tinha passado por algumas entrevistas, mas fiz apenas dois testes. E meus pais estavam pensando que talvez não fosse bom para mim fazer esse filme. Achei que Chris Columbus tinha desistido de mim.
Época - Você ficou nervoso nas filmagens?
Daniel - Muito. No começo eu estava despreparado, porque tinha ensaiado apenas com o diretor, sem o resto do elenco. Quando cheguei ao estúdio e vi aquele monte de gente olhando, atores muito mais experientes que eu, tive medo. Estou em quase todas as cenas, sabia que muita gente ficaria esperando um erro meu a qualquer hora. Depois relaxei, e acabei me divertindo muito.
Época - Você já tinha lido algum livro da série antes de ser chamado para o filme?
Daniel - Só o primeiro. Mas confesso que não era muito amigo dos livros... Aí me chamaram para o papel e eu li A Pedra Filosofal quatro vezes. Descobri que era muito legal.
Época - Por que você acha que esses livros fazem tanto sucesso?
Daniel - Porque têm todas as coisas mais divertidas de magia, como vassouras voadoras, pessoas que desaparecem, animais fantásticos, varinhas de condão. E são mais inteligentes que muitos outros. Tem também o lado sombrio, o mistério. Isso dá um molho especial.
Época - O que mudou em sua vida por causa do filme?
Daniel - Parei de ir à escola. Tinha um professor particular que me dava quatro horas de aula por dia, nos intervalos das filmagens. Tinha também mais quatro horas de trabalho, o tempo permitido pela lei. No começo era difícil. Eu não conseguia me concentrar nos estudos. Depois me acostumei e acabei tirando as melhores notas de toda a minha vida. Fora isso, pouca coisa mudou. Meus pais fizeram um esforço enorme para que eu continuasse com uma vida normal, convivendo com os amigos da escola o máximo possível.
Época - O que você faz com o dinheiro que ganha?
Daniel - Guardo tudo. Meus pais me ajudam, põem na poupança. Quero guardar para comprar uma casa quando eu tiver 21 anos. Nem sei se é suficiente para comprar uma casa, mas se precisar eu trabalho um pouco mais e completo. (Estima-se que ele tenha recebido US$ 1,4 milhão pelo primeiro filme.)
Época - Você conversou com J.K.Rowling sobre Harry?
Daniel - Sim, umas três vezes. Ela me deu algumas dicas sobre Harry, elogiou meu teste, disse que estava feliz de eu ter sido escolhido. Mas, na verdade, a descrição que ela faz no livro é tão precisa que ficou bem mais fácil. Tudo o que eu tinha de saber está lá.
Época - Você se acha parecido com Harry?
Daniel - Talvez. Como ele, eu também sou curioso e fiel a meus amigos. Ao mesmo tempo, ele tem uma coragem que eu não teria em determinadas situações. Uma pessoa corajosa é aquela que escolhe um caminho que outras não escolheriam porque têm medo. E Harry faz isso várias vezes ao longo da história.
Época - Qual é seu poder mágico preferido? Voar, desaparecer, mover objetos com a varinha?
Daniel - A capa da invisibilidade. Se pudesse escolher apenas um poder, seria esse.
Beatriz Velloso, de Londres
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